sexta-feira, 1 de março de 2013

Casos de Minas

A BOLA DE FOGO - LENDA DE OURO PRETO


Quem visita aquela bonita cidade mineira, orgulhosamente adormecida nos macios coxins do sertão, fica conhecendo em seus arredores uma tapera que pertencera a antiga família e que constituiu a célula inicial do importante centro comercial de hoje.

Os montões de madeirame apodrecido e os muros esborcinados são o que resta dos sonhos do passado, pois o destino foi virando as folhas de seu livro e muita coisa mergulhando no esquecimento. A tapera dos velhos bandeirantes é tudo o que ficou das grandezas olvidadas, prendendo-se à história ou à lenda, como por exemplo o sugestivo episódio da Bola de Fogo.


Uma linda jovem, de nobilíssimo tronco paulista, encanto da família fundadora, atingia o limite perigoso dos trinta janeiros sem se ter prendido a nenhum mestiço do novel arraial. Isso se dera porque os pais tinham decidido que ela, sua herdeira universal, só se casaria com um branco de boa estirpe e brazão. As paredes da vetusta mansão senhorial guardavam, ciosos, os sonhos da donzela de sangue altivo. E o esperado cavalheiro branco chegou um dia, pelos meados do século 18, época em que se desenrola o episódio desta página.


Tratava-se de um fidalgo espanhol, aprumado, maneiroso, bigodes retorcidos, trajando de acordo com a moda, e com a sua durindana pendente da cintura. Gostava de contar bravatas, relembrando duelos perigosos e amores difíceis. Era um bom copo, prezava a companhia das damas e dava a vida para não pensar em coisas sérias. Mas era branco e tinha um belo nome, ambição da distinta môça. Era quanto bastava.Viram-se, entenderam-se e casaram.   


A aristocrática mansão engalanou-se para receber o cavalheiro espanhol, já então rico senhor de fazendas e de minas de ouro daquele vasto sertão e de muitas léguas de terras além de Guiacuí Conduziu-se a contento, durante a lua de mel, o esposo branco da descendente de paulistas. Mas veio o tédio, a uniformidade dos dias, a quietude imperturbável do lar...O estrangeiro era inquieto e perdulário; tendo grande fortuna à sua disposição, meteu-se na companhia de estróinas e conhecidos do momento, sacrificando assim o nome ilustre a que se ligara.


A dor entrou no coração da esposa, pois via morrerem as suas últimas ilusões. A ventura entrevista esboroava-se diante da conduta do marido. Ele perdia as estribeiras. O arraial indignava-se com o seu procedimento, mas o mal era irremediável. O dinheiro era atirado a mancheias pelos balcões do vício, ou pelas íntimas tascas, freqüentadas por escravos libertos.


No auge da sua infelicidade e para restringir os desmandos do fidalgo, reuniu o resto de todo o ouro do casal, encheu um enorme tacho do engenho e resolveu atirá-lo fora, tal o ódio insopitável que lhe despertava o vil metal, responsável pela sua desdita.


Certa noite, com o auxílio de uma escrava, arrastou a preciosa carga até um rio próximo e precipitou- a do barranco sobre as águas do profundo poço, famoso pelo remoinho.Empobrecia, é verdade, mas destruía a causa do vício do marido e da sua própria infelicidade. Nem assim o libertino pôs um paradeiro nos seus despautérios.


Foi muito comentado em toda a região o procedimento heróico daquela mulher. E muitos anos após, quando o gelo da morte a colheu para santa paz, os moradores do povoado viram muitas vezes, ao soar da meia-noite, uma bola de fogo a subir e a descer pelo rio, sem parar um só instante no mesmo lugar.


Essa bola de fogo marcava, no ponto em que surgia, o local preciso em que a decidida esposa precipitara o tacho de ouro, com o auxílio da escrava, que lhe jurara jamais revelar o seu segredo.


A CAPELA DO BOM JESUS - LENDA DE OURO PRETO

Nos primeiros tempos da colonização, atraído pela fama das riquezas auríferas de Minas, um rapaz de Braga, Portugal, resolveu embarcar para o Brasil a fim de enriquecer, como tantos outros.


Na hora da partida recebeu de sua mãe, entre lágrimas, uma pequena imagem do Senhor Bom Jesus, para que o protegesse. O filho, ao guardá-la, jurou que assim que pudesse, lhe construiria uma capela, para veneração pública.


Chegando às minas de Ouro Preto, o novo faiscador foi feliz, conseguindo garimpar grossas pepitas de ouro, mas esqueceu-se da promessa que fizera, em Braga, de construir a capela para o santo seu protetor. Gastava as riquezas que lhe vinham às mãos com as mulheres de má conduta que enxameavam por ali. Tanta fez que caiu na miséria e acabou doente, arrastando-se pela beirada dos córregos, sem forças para neles mergulhar e faiscar.


Certa noite, porém, já desanimado, encontrou-se com um sujeito bem apessoado que o convidou a visitar umas casas suspeitas, onde havia boa pinga e melhores mulheres.


Depois de algumas horas nessa alegre companhia, o desconhecido mostrou-lhe os pés de pato, disse quem era e propôs-lhe a compra da alma em troca de vinte anos de saúde, amores e riquezas.


O rapaz aceitou o ajuste e este pacto ficou firmado entre ambos: vinte anos depois, à boca da noite, o Demônio voltaria a cobrar a divida que acabava de ser contraída.


Efetivamente, o rapaz entrou numa fase de assombrosa prosperidade. Não havia barranca em que ele metesse a bateia que não desse centenas de oitavas de ouro, riquezas que gastava com as mulheres lindas que vinham do Reino.


Foram vinte anos de opulência e prazeres que o fizeram esquecer-se do trato feito com o Sujo. Mas este, na véspera do dia marcado para o levar, avisou-o de que se aprontasse para o dia seguinte.


O rapaz, caindo tardiamente em si, assustou-se e tratou de ganhar tempo. Respondeu ao Diabo que jurara construir uma capelinha para o Senhor Bom Jesus, promessa que gozava de preferência, não só por quem se tratava, como também por ser anterior ao pacto.


Ora, o Tinhoso que estava a par da jurisprudência que considera prescritos os direitos infernais, quando não se executam na data fixada, prontificou-se a construir ele mesmo, aquela noite, a ermida onde se entronizasse a imagem do Bom Jesus.


No primeiro terreno baldio que encontrou ali perto, o Capeta construiu, com alucinante rapidez, uma capelinha.


Quando ela recebeu os últimos retoques, o português correu à casa e voltou com a imagem do Senhor Bom Jesus apertada ao coração e esconjurando o Diabo!


Este, desesperado, ficou furioso e ia derrubar a capelinha quando o rapaz deu um salto para dentro dela e colocou o Bom Jesus no altar, perdendo o Demônio a posse da construção.


O antigo renegado arrependeu-se da vida que levara até ali e entrou no caminho da penitência, dormindo na pedra fria que calçava o chão da capelinha, da qual se fez zelador durante os muitos anos que ainda viveu, morrendo em cheiro de santidade.

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