Desde o século passado a Serra do Cipó vem sendo observada com muito interesse por diversos estudiosos. Cientistas famosos como o naturalista francês August de Saint-Hilaire, o botânico alemão Carl Friedrich Phillip von Martius e o naturalista inglês George Gardner ficaram impressionados, por exemplo, com os campos rupestres. Os brasileiros Ailton Joly e Nanuza Menezes dedicaram boa parte de seus estudos e pesquisas à vegetação local.
O paisagista Roberto Burle Marx dizia que começou a entender mais as plantas quando passou a acompanhar o botânico mineiro H. L. Mello Barreto em suas visitas a Serra do Cipó, e sempre que retornava para buscar inspirações dizia-se cada vez mais fascinado. Segundo os botânicos as quase 2.000 espécies já catalogadas atualmente não devem representar nem a metade do que deve existir na região, e se tem notícia de que dezenas dessas espécies estão sendo objeto de pesquisa em laboratórios do país e do exterior.
Na parte baixa da serra predomina a vegetação de cerrado, enquanto na região mais alta são encontrados principalmente os campos rupestres, de elevadíssima diversidade florística e onde alguns cientistas consideram que se concentra uma das mais ricas comunidades vegetais do mundo, inclusive com numerosas plantas endêmicas, ou seja, que só existem lá.
Dentre as plantas destaca-se a ocorrência das sempre-vivas (família dasEriocaulaceae) cujas flores secas, pelo fato de não murcharem nem perderem a cor, são muito utilizadas em ornamentação. Bastante freqüentes são as curiosas canelas-de-ema gigantes (Vellozia gigantea), que podem atingir até seis metros de altura e um metro de circunferência na base do tronco.
São encontradas também orquídeas de várias espécies, bromélias, margaridas, cactos, ipês e quaresmeiras, além de fascinantes liquens coloridos que brotam sobre as pedras. Enfim, a multiplicidade de espécies vegetais é tão grande que a região encontra-se permanentemente florida durante todas as estações do ano, sendo considerada um verdadeiro laboratório a céu aberto, um paraíso para os botânicos.
Para assegurar a perpetuação das espécies, as flores que cobrem os campos utilizam variadas estratégias e curiosos mecanismos de polinização. As que são polinizadas por abelhas exibem em geral flores amarelas ou azuis, com pigmentos que refletem a luz ultravioleta. Como os insetos conseguem enxergar esse espectro de luz aos seus olhos as plantas brilham, assim, dependendo da distribuição dos pigmentos, as flores passam a ser vistas nos campos da serra como autênticas rodovias de néctar, o alimento que o vegetal oferece ao polinizador como forma de recompensa.
Quando são polinizadas por borboletas as flores são perfumadas e refletem a luz ultravioleta, já a dos pássaros não possuem perfumes tampouco refletem a luz ultravioleta visto que eles não podem percebê-los. Para atrair os morcegos elas exibem cores brancas e oferecem grande quantidade de néctar.
São também fascinantes os recursos utilizados pelas plantas para sobreviver na serra. Para economizar água, por exemplo, espécies como os cactos e as orquídeas tornam-se carnosas. Com isso, durante a noite elas fixam nas folhas o CO2 atmosférico, vital para as plantas clorofiladas e indispensável para a fotossíntese. Assim, durante o período diurno quando a fotossíntese será realizada elas já possuem armazenado o suprimento de gás necessário, ficando dispensadas de abrir pequenos poros da folha para coletá-los, processo esse que certamente as obrigaria a perder parte da água que lhes assegura a vida.
A fauna da serra é bastante rica, sendo encontradas dezenas de espécies de mamíferos, anfíbios e aves. Destaca-se a paca, o tatu, o tamanduá-mirim, a jaguatirica, o veado, o macaco, a lontra, o lobo-guará e a capivara.
Dentre as aves são vistos com freqüência gaviões, codornas, perdizes, azulões, sabiás, pica-paus, tucanos, pintassilgos e beija-flores. O beija-flor-de-gravata-verde (Augastes scutatus) e o pássaro Cipó Canesteros, ambos endêmicos da serra, despertam grande interesse em ornitólogos de várias partes do mundo, e vale lembrar que por garantir a reprodução das plantas o beija-flor é essencial para o ciclo de biodiversidade.
Quanto aos peixes, além das variedades mais comuns, merece destaque a presença abundante da pirapetinga, conhecida como a truta brasileira. Essa espécie apresenta um elevado nível de exigência ambiental, habitando exclusivamente águas com altos teores de oxigênio dissolvido.
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